Para alguns, “sexo” é um palavrão. Quanto menos se fala, melhor. Para outros, a palavra “sexo” atrai como imã: colocá-la na capa de uma revista ou em luzes de néon, é chamar a atenção de todos ao redor. Vivemos num mundo de desequilíbrio sexual. Por um lado, sexomaníacos. Por outro, sexofobicos. Há dois extremos: libertinagem e legalismo. Alguns, talvez a maioria, ficam com sexo na mente 24 horas por dia. Outros tem nojo do sexo, e adotam atitudes vitorianas a respeito.
O sexo também gera controvérsias em círculos religiosos. Em algumas religiões, o sexo se justifica somente pela reprodução da espécie, como se fosse algo “sujo” fora deste propósito. Historicamente, seitas e religiões pagãs têm feito do sexo uma parte integral de adoração aos deuses ou a um líder carismático. A igreja evangélica, apesar da sua teologia geralmente sã com respeito ao sexo, tem sofrido golpe após golpe contra seu testemunho justamente por causa da promiscuidade e imoralidade de alguns de seus líderes. Ou tem errado por omissão, gaguejando sobre sexo quando Deus fala clara e abertamente.
Autor e conferencista evangélico Jaime Kemp diz o seguinte sobre o clima moral do nosso mundo:
“A nossa sociedade, ao que tudo indica, está obcecada pelo sexo. Nem mesmo Freud conseguiria explicar. O sexo fora do casamento, a homossexualidade, a masturbação, o sexo em grupo, o estupro, a prostituição infantil, a pornografia são práticas cada vez mais aceitas em nossa sociedade. . . . “
O sexo é utilizado na propaganda de automóveis, desodorantes, roupas e até mesmo de adoçantes. É impossível você se aproximar de uma banca de jornal, sem se constranger com o grande número de revistas pornográficas. A TV a cabo fornece canais exclusivos de exibição sexual e mais de 50% das informações disponíveis na Internet baseiam-se em sexo (Lição 12, Revista EBD SOCEP, Jaime Kemp: O Cristão e o Sexo, p. 43).
Uma situação semelhante, era o clima sexual “esquizofrênico” que existia na Igreja de Corinto! Como a nossa, era uma cultura extremamente sensual. As religiões falsas, idólatras e demoníacas da cidade promoviam prostituição cultual como forma de adoração aos ídolos. Sexo livre, prostituição, homossexualidade e mais, reinavam. O nome da cidade, “Corinto”, foi transformado num verbo para descrever perversão moral: “Corintizar” significava debochar.
Por outro lado, havia um grupo de cristãos naquela cidade, salvos, de moral, resgatados do lamaçal sexual, que repudiavam aquela velha vida. Alguns dos coríntios corriam o risco de levar o pêndulo para o outro lado. Estavam tendendo para um asceticismo que menosprezava a relação sexual, mesmo entre os casados. Reagiram contra os abusos sexuais, e corriam o risco de desprezar algo que Deus havia criado para o homem, algo bom, puro e santo.
1 Coríntios 7 foi escrito para corrigir essas tendências desequilibradas. Pois os leitores tinham dúvidas sobre uma sexualidade sadia numa cultura pervertida.
O Casamento não é para Todos
Paulo começa respondendo uma carta enviada pelos coríntios. Provavelmente a primeira pergunta feita por eles: “Paulo, não seria melhor nunca casar?”
Sua resposta é clara e objetiva, mas reflete suas reservas: “Sim, é bom que o homem não toque mulher.” A frase “não toque mulher” é uma forma suave de dizer, “É bom não entrar num relacionamento conjugal com suas obrigações sexuais.”
Pode parecer estranho, quando lembramos do que Deus falou em Gn 2:18 e 24 “Não é bom que o homem esteja só . . . por isso, deixa o homem pai e mãe, une-se à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” Mas Paulo estava escrevendo em meio a circunstâncias bem específicas. Há pelo menos 3 fatores que influenciaram essa resposta, razões que devem ser consideradas por alguém que pensa no casamento. São razões para não casar:
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A difícil situação corintiana
Aparentemente haviam muitas dificuldades para os crentes em Corinto. Talvez perseguição, marginalização ou pobreza. Mas à luz dessas dificuldades, Paulo aconselhou que as pessoas não assumissem novos estados civis que implicariam em vários ajustes e adaptações em meio a tribulação.
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Liberdade para servir o Reino de Deus
A “solteirice” traz grandes vantagens para quem serve o Reino. Seu interesse não está dividido. De corpo e alma ele pode servir ao Senhor. Está livre para ir e vir, para estabelecer seus próprios horários, gastar seus bens, sacrificar a si mesmo, dedicar-se até a morte ao Senhor. Mas o casado tem outras obrigações, dadas por Deus, que acabam clamando por sua atenção.
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O dom de Deus
O celibato não é a norma para o ser humano, muito menos para a sociedade. A ordem divina de “multiplicar-se e encher a terra” (Gn 1.28) nunca seria cumprida a não ser que a maioria casasse e tivesse filhos. Gênesis diz: “Não é bom que o homem esteja só . . . por isso, deixa o homem pai e mãe, une-se à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.” O casal casado reflete a imagem de Deus, justamente em seu relacionamento conjugal, em que dois-em-um refletem três-em-um. Isso é bom, puro e santo. É a norma. Mas há exceções. Exige um dom especial de Deus, o chamado “dom de celibato”. A palavra “dom” usada aqui é a mesma usada quando a Bíblia se refere aos “dons espirituais”—uma capacidade sobrenatural, dada por Deus, para uma obra especial. É um produto da graça de Deus na vida de um indivíduo. Algumas pessoas têm o “dom” de celibato, outros têm o “dom” de casamento—“um de um modo, outro de outro.” É a GRAÇA de Deus que capacita um indivíduo, para um ou outro estado civil. Por ser uma questão de “graça”, não podemos nem devemos reclamar do nosso estado civil. A graça dEle é suficiente para isso! Não temos que nos entregar às fantasias sexuais, práticas pervertidas da cultura, pornografia, ou imoralidade.
Paulo diz que gostaria que todos fossem como ele era, ou seja, solteiro. De fato, a maioria pensa que Paulo foi casado, mas que era viúvo, ou talvez que sua esposa não-crente havia o abandonado. De qualquer jeito, ele permanecia nesse estado para melhor servir a Deus.
Cabe aqui uma palavra de exortação. Casados, cuidado para não presumir que seus amigos solteiros são “pobrezinhos”. Que todos vivem esperando o dia que finalmente poderão se casar e serem “inteiros”. Que são desesperados, encalhados, não-desejáveis, ou que há algo de errado com eles. Sem saber, machucamos, ferimos, essas pessoas pela nossa insensibilidade e falta de tato. Cuidado! Em alguns casos, são pessoas MAIS completas, do que aqueles que PRECISAM casar. Não devemos saír por aí, como cúpidos tentando casar todo mundo!
Cuidado, solteiros, para não viver sua vida procurando “a grama mais verde”. Paulo exalta o celibato, o estado civil de solteiro, especialmente quando a pessoa aproveita os anos de “solteirice” para investir no Reino de Deus! Invista esses anos preciosos em serviço desimpedido ao Reino de Deus. Cresça como pessoa. Desenvolva seus dons, suas habilidades, para ser uma pessoa cada vez mais atraente, mais piedosa, mais sensível, mais amável, não na esperança de um dia se casar, mas para ser um servo cada vez mais eficiente do verdadeiro Noivo, Jesus Cristo.
O Casamento Visa Evitar Imoralidade
Paulo reconhece que o “dom” de celibato não é para todos, e que na verdade talvez seja para a minoria. A maioria das pessoas tem desejos e impulsos sexuais tão fortes (dados por Deus!) que o celibato não é uma opção. Essas pessoas enfrentam uma luta diária, todo dia, toda hora, talvez todo minuto de suas vidas. Seus desejos são como um vulcão pronto para explodir. Ainda mais em nossa cultura, que é extremamente sensual, somos cercados por tentações sexuais que nos preparam emboscadas todo o tempo! Bancas de jornal, propagandas, outdoors, filmes, conversas, piadas, roupas indecentes, tudo pode ser uma armadilha para fazer-nos cair.
Para esses, Paulo diz que devem procurar meios legítimos para resolver suas frustrações. Em 6.18 ele fala que devemos fugir DA imoralidade. Aqui, devemos fugir PARA o casamento.
Deus deu o casamento como a única expressão legítima, pura e santa de nossa sexualidade. “Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem como o leito (coito) sem mácula; porque Deus julgará os impuros e adúlteros” (Hb 13.4).
Deus é quem criou o sexo. Ao contrário da opinião popular, Ele não é um velho, mal-humorado no céu, querendo chover no nosso pique-nique sexual. Pode ter certeza de que Ele tem um plano para o relacionamento sexual. Aqui aprendemos que o sexo não é só para procriação. Tem um propósito de prazer também.
É impressionante como o Inimigo, Satanás, perverte tudo que é bom. Os melhores presentes que Deus nos dá, ele tenta estragar. Usa dons espirituais para dividir igrejas. Usa a música para separar irmãos. Usa o sexo ilícito para sujar a imagem de Deus e causar culpa, doença e ressentimento.
Para evitar aberrações sexuais, e principalmente para evitar o estrago do testemunho da Igreja e do Reino, Paulo recomenda o casamento. O CASAMENTO NÃO É UM FIM EM SI, MAS UM MEIO PARA PROMOVER UM FIM, A GLÓRIA DE DEUS PELA EXPANSÃO DO SEU REINO. O que justifica o casamento aqui é melhor serviço ao Reino de Deus, sem distrações, sem perversões, sem impureza. Case-se, não somente para satisfazer seus desejos sexuais, mas para poder servir ao Reino sem distrações. A ênfase não é tanto em direitos, mas responsabilidades. Não que exijo meu direito ao corpo do cônjuge, mas assumo a responsabilidade de usar meu corpo para agradá-lo. (Repare na igualdade inédita entre marido e esposa em termos sexuais. A mesma responsabilidade pertence a cada um.) Quando casamos, entramos numa aliança que tem como uma das suas condições o compromisso de fazer tudo possível para satisfazer os desejos legítimos sexuais do outro. Faz parte da aliança, e ferimos aquela aliança quando não satisfazemos regularmente os desejos do cônjuge.
Somos lembrados da fórmula bíblica que justifica o casamento: 1 + 1 > 2. O casamento justifica-se quando a soma das nossas vidas significará maior impacto para o Reino de Deus do que sozinhos. Por isso evitamos o jugo desigual (2 Co 6.14). O jugo desigual significa um serviço ineficiente, distraído, desviado, de cultivo do campo do Senhor. O casamento justifica-se quando duas pessoas são “auxiliadoras idôneas”, cada um complementando o outro, satisfazendo os desejos do outro, reforçando os pontos fracos do outro.