Seria difícil achar um assunto mais polêmico do que o sexo. Para alguns, “sexo” é um palavrão. Quanto menos se fala sobre o assunto, melhor. Esta “sexofobia” leva a atitudes não-saudáveis quanto ao sexo. Para outros, a própria palavra “sexo” é como ima: colocá-la na capa de uma revista ou em luzes de néon, e os olhos são atraídos naturalmente. Observando a nossa cultura, teríamos que concluir que somos “sexo-maníacos”: preocupados com e absorvidos pela nossa sexualidade.
O sexo também gera controvérsias em círculos religiosos. Em algumas religiões, o sexo se justifica somente pela reprodução da espécie, quase se tornando algo sujo fora esta intenção. Historicamente, seitas e religiões pagãs têm feito do sexo uma parte integral de adoração aos deuses ou a um líder carismático. A igreja evangélica, apesar da sua teologia geralmente sã com respeito ao sexo, tem sofrido golpe após golpe justamente por causa da promiscuidade e imoralidade de alguns de seus líderes.
À luz desta polêmica e confusão, cabe a nós uma reflexão séria e bíblica com respeito ao sexo. O que a Bíblia ensina sobre o sexo? Especificamente, qual o propósito do sexo, e qual deve ser a atitude do cristão com respeito a sua sexualidade? Existem pelo menos quatro razões bíblicas pelo sexo:
Intimidade total e conhecimento mútuo
Não é por acaso que o texto bíblico se refere ao sexo quando diz que “Adão conheceu a Eva, e ela deu à luz um filho . . .” (cf. Gn 4:1, 25). Infelizmente, algumas Bíblias não mantêm este eufemismo, assim perdendo a riqueza da palavra “conheceu”. O ato sexual é um evento em que duas pessoas se abrem totalmente uma para a outra, tornando-se totalmente vulneráveis, mas ao mesmo tempo dando continuidade a um processo de compreensão mútua.
Ao mesmo tempo, como muitos casais casados podem testemunhar, o bom andamento da vida sexual do casal exige um conhecimento mútuo cada vez maior. Muito mais do que um ato bestial e biológico, o sexo verdadeiro aos olhos de Deus é uma experiência que exige conhecimento íntimo, e que gera conhecimento mútuo. Por isso a vida sexual do casal deve crescer em significado e profundidade ao longo de um casamento. Não deve ser monótono ou cansativo, como alguns vendedores de sexo ilícito querem que acreditemos.
O “sexo livre” realmente barateia este aspecto da união física entre duas pessoas. Em vez de conhecimento mútuo e intimidade profunda, encontramos falsidade, hipocrisia, exploração e prostituição, produtos de sexo “animal” que não significa muito mais do que o coito de bichos.
Este é o problema também com contato físico precoce entre dois jovens, seja no “ficar” ou no namoro descuidado. Deus criou o homem e a mulher de tal forma que cada degrau na escada de intimidade física leve para o próximo. Intimidade física entre duas pessoas certamente tem seu lugar: no casamento (Hb 13:4)! Antes de firmar aliança, começar a subir a escada só pode resultar em uma de duas conseqüências: fornicação ou frustração. Isso porque Deus é quem fez a atração física. Dar um curto circuito no processo frustra; avançar até o topo perverte o propósito de sexo. Em ambos os casos o melhor remédio é abster de intimidades físicas até o casamento.
Prazer e a satisfação de desejos profundos.
Quando Adão foi criado, Deus lhe deu a tarefa de dar nomes para os animais. Sozinho, ele completou a tarefa, que mostrou-lhe um fato alarmante. Depois que todos os animais haviam desfilado na frente do homem, ele percebeu que todos tinham seus pares, “para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora idônea” (Gn 2:18). Por isso é que Deus falara “Não é bom que o homem esteja só . . .” .
É interessante notar que o homem não estava literalmente sozinho. Havia cachorros e gatos no Jardim com os quais podia manter algum tipo de companheirismo. O próprio Deus estava com ele, e iria andar com ele diariamente ao anoitecer. Mas eram relacionamento verticais—o homem acima dos animais, e Deus acima do homem. Não eram suficientes para suprir desejos bem mais profundos para um relacionamento horizontal de companheirismo. Deus deu ao homem alguém que fazia parte dele para desfrutar de intimidade e comunhão com ele, assim satisfazendo seus desejos mais profundos. O ato sexual é a consumação da satisfação e do prazer desta comunhão.
Provérbios 5 aconselha o casal casado a procurar esta satisfação mútua como forma de evitar a imoralidade: Bebe a água da tua própria cisterna, e das correntes do teu poço. . . Sejam para ti somente e não para os estranhos contigo. Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores, e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias” (Pv 5:15-19). O livro de Cantares foi escrito para exaltar a beleza de amor romântico e sexual dentro do plano matrimonial de Deus. Estes textos certamente desmentem a idéia de que o sexo por prazer está fora da vontade de Deus!
O Novo Testamento ecoa este aspecto de satisfação sexual mútua no casamento. O apóstolo Paulo alista desejos sexuais como uma das principais razões por que casar-se (“é melhor casar do que viver abrasado”, 1 Co 7:9). Também adverte os casais a não absterem por muito tempo da união sexual “para que Satanás não vos tente por causa da incontinência” (7:5).
Reflete aspectos da imagem de Deus
Muito mais importante que todas as razões citadas acima é o fato de que existe profunda relação entre a sexualidade humana e a teologia. Ou seja, o casal casado tem o privilégio de refletir um pouco do próprio ser de Deus.
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”(Gn 1:27). “Homem e mulher os criou” (à imagem de Deus) significa que o casal como casal revela aspectos profundos da Pessoa de Deus. O casal espelha unidade em diversidade, assim como vemos na Santa Trindade, onde há três pessoas distintas, com funções diferentes, mas com harmonia total.
O casal também reflete a imagem de Deus através da intimidade de seu relacionamento. Há aspectos da personalidade de Deus, seus atributos, que somente se vêem em comunidade, tais como amor incondicional, bondade, longanimidade e misericórdia. Deus criou o casal, e deu-lhes o sexo, como forma de demonstrar esta união de “dois-em-um” com amor incondicional.
Por isso Deus odeia aberrações sexuais– sujam sua imagem aqui na terra! O plano de Deus exige que uas pessoas do sexo oposto, porém unidas por “aliança”, se unam para refletir essa unidade em diversidade. Qualquer relacionamento sexual que não seja entre um homem e uma mulher casados implica em jogar grafiti na imagem de Deus. Homossexualismo (unidade sem diversidade), prostituição (unidade sem aliança), pornografia (exploração), e até o “ficar” (exploração sem compromisso) são todas aberrações que pervertem a imagem de Deus e o plano dEle para nossa sexualidade. Não é que Deus quer acabar com a “festa”; Ele quer proteger a Sua imagem.
A procriação de novas imagens de Deus
Infelizmente alguns no decorrer dos séculos têm limitado o propósito do sexo para a reprodução da espécie. Embora procriação não seja o único propósito para o sexo, certamente é um propósito. É interessante que o primeiro mandamento na Bíblia tem a ver com o sexo e a reprodução: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a . . . ” (Gn 1:28).
Precisamos valorizar o significado teológico por trás desta ordem. Deus queria que a imagem dele, espelhada no homem e na mulher, fosse espalhada no mundo inteiro! Antes da queda, a união de Adão e Eva teria reproduzido pequenos espelhos da Pessoa de Deus, e também do amor do casal. Depois da queda a imagem ainda se vê, mas agora de forma ofuscada. Somente em Cristo Jesus é que esta imagem pode ser resgatada e o homem feito uma “nova criatura”. Por isso a experiência sexual de um casal de cristãos, redimidos pelo sangue de Jesus e vivendo uma vida em comunhão com Deus e um com o outro, deve ultrapassar por muito a imitação pobre oferecida pelo mundo. Este é o plano de Deus!
Como se o prazer da intimidade sexual em si não fosse suficiente, muitas vezes Deus dá “graça sobre graça”: filhos feitos não somente à imagem de Deus, mas à imagem do casal! “No dia em que Deus criou o homem, à imagem de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou, e lhes chamou pelo nome de Adão, no dia em que foram criados. Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua imagem, e lhe chamou Sete (Gn 5:1-3). A procriação de novas imagens de Deus e novas imagens dos pais é um dos propósitos mais sublimes do sexo do ponto de vista de Deus.
Apesar de toda esta beleza no propósito de Deus para a sexualidade, temos que admitir que o sexo não é tudo na vida do cristão. Infelizmente, nosso inimigo, o “sedutor de todo o mundo” (Ap 12:9) tem alcançado suas maiores vitórias contra a igreja de Jesus Cristo justamente neste ponto. Temos engolido as propagandas, revistas, novelas e piadas sujas que o mundo circula, barateando uma das mais sublimes e belas criações de Deus. O sexo tem seu lugar, mas não ocupa todo lugar! Devemos louvar a Deus pela sua sabedoria e bondade, por ter criado o sexo e dado-o ao homem. Mas vamos manter equilíbrio, não sendo sexofobíacos, nem sexomaníacos. Vamos louvar ao Criador, e não à sua criação.