“Boas maneiras”
Temo que minha esposa vá dar risada ao descobrir que estou escrevendo este artigo. Creio que minha sogra vai desmaiar. Ambas são pessoas educadas, cultas e elegantes. Quanto a mim, tendo a arrotar. Não seria um grande problema se morássemos numa daquelas culturas em que o arroto é considerado um elogio após uma ótima refeição. (Acho que Deus me colocou no país errado!) Mas preciso confessar que, aos poucos, tenho aprendido a valorizar o que chamamos de “boas maneiras”. Com um prole grande de filhos ao redor da minha mesa todo dia, também reconheço que o meu exemplo como pai e o apoio que dou a minha esposa são muito importantes. Quero que meus filhos sejam mais que eu sou.
Durante muitos anos considerei “boas maneiras” como regras arbitrárias, fabricadas por pessoas ociosas e sofisticadas demais para meu gosto. Em alguns casos, tinha razão: extender o dedinho da mão direita enquanto tomando um chá inglês não diz muito sobre seu amor pelos outros.
Há muita base bíblica para boas maneiras. Boas maneiras nada mais são do que uma aplicação do princípio conhecido como “amor pelo próximo“. Este respeito pela preciosidade dos outros é o que distingue o cristianismo de todas as outras religiões do mundo. O verdadeiro “amor ao próximo como a si mesmo” (cf. Lv. 19:18, Mt.22:39) tem plena expressão no cuidado para com aquele que está ao nosso lado, vem atrás, ou está na nossa frente.
O texto clássico na Palavra de Deus sobre este tipo de amor encontra-se em Filipenses 2:1-8, e fala do exemplo de Jesus Cristo, a pessoa mais “culta” que já existiu, pois vivia sempre a favor dos outros. Jesus era simples, humilde, nunca pretensioso, sempre “varão”, mas tratava as pessoas com consideração, dignidade e respeito. Tenho certeza de que, quando Maria entrava na sala onde o pequeno Jesus estava assistindo seu programa predileto que ele dava toda atenção para ela. Não consigo imaginar Jesus partindo pão com os 12 e guardando metade da refeição para si mesmo num prato já cheio de comida. Ele sempre serviu os outros primeiro. Acho difícil imaginar Jesus acampado à margem do Mar da Galiléia e deixando latas de suco de figo e papel no chão. Nem consigo imaginar ele e os discípulos escrevendo “Jesus e seus discípulos estiveram aqui!” nas pedras de Judéia.
Boas maneiras para o cristão significam viver conforme a resposta à pergunta “O que Jesus faria?” O fato é que muitos hoje não sabem o que Jesus faria por não conhecerem as Escrituras. Infelizmente, nunca refletiram sobre expressões práticas de “amor ao próximo” em nossos dias. Por isso gostaria de sugerir um pequeno guia para boas maneiras que refletem a preciosidade dos outros. Não praticá-los muitas vezes revela uma falta de educação, ou egoísmo, ou desrespeito e desonra daqueles ao nosso redor. Pai, você está ensinando (e exemplificando) a preciosidade dos outros como base de boas maneiras? Jovem, você está deixando que a vida de Jesus seja vista em você, pelo amor à preciosidade daqueles ao seu redor? A lista a seguir não somente ajudará você a ser uma pessoa mais “culta”, mas a ser um cônjuge bem mais agradável algum dia!
Em Geral
- Ninguém deve interromper uma conversa, mas esperar sua vez de falar
- Não fale alto, dominar a conversa, fazer perguntas pessoais ou íntimas, usar palavrões ou palavras indiscretas, chamar atenção para si mesmo ou falar mal de outras pessoas.
- Nunca “furar fila”, correr na frente de outros para ser servido primeiro, nem pegar porções grandes demais ou que talvez signifiquem que outros vão ficar sem o suficiente.
- Nunca bater numa outra pessoa.
- Não arranjar os móveis ou decorações na casa dos outros (para protegê-los dos seus filhos).
Em Casa
- Levantar na presença dos mais velhos quando entram na sala (Lv 19:32).
- Desligar a televisão ao receber uma visita.
- Não deixar roupas sujas e objetos pessoais no chão ou “esquecidos” ao redor da casa.
- Não sujar múltiplos copos, pratos, etc. e deixá-los para outro lavar.
- Não deixar uma última folha no rolo de papel higiênico, só para não ter que trocá-lo.
- Abaixar a tampa do vaso sanitário!
- Limpar a pia/o chuveiro depois de fazer a barba ou uma depilação.
Em Público
- Cumprimentar pessoas com um sorriso e interesse genuíno em seu bem-estar.
- Sempre deixar um lugar que você visitou (parque, camping, floresta, etc.) mais limpo do que quando você chegou.
- Nunca jogar ou deixar lixo no chão.
- Oferecer seu assento para pessoas idosas, gestantes, debilitadas ou com crianças pequenas (NUNCA assentar ou estacionar em lugares designados para estas pessoas!)
- Não estragar a natureza, tirando flores ou plantas, deixando marcas em árvores, etc.
Na Igreja
- Não correr ou brincar no pátio da igreja ou outros lugares onde pessoas idosas ou debilitadas congregam.
- Não atrapalhar o andamento de culto público por:
- chegar atrasado
- levantar e sair
- passar bilhetes
- conversar
- deixar seu bebê chorar
- usar roupa indecente
- permitir que seu filho desvie atenção do Senhor por fazer “gracinhas”
Nas Refeições
- Somente começar a se servir quando a anfitriã senta e pega seu garfo (isso para respeitar o tempo e trabalho que ela investiu preparando a refeição).
- Evitar tópicos “grosseiros” (tais como “sangue”, “vômito”, doenças e acidentes) enquanto sentado à mesa.
- Começar a se servir com o que estiver na sua frente, e depois de se servir sempre passar os pratos adiante. Não começar a comer até os outros serem servidos.
- Não falar com sua boca cheia ou mastigar com boca aberta
- Não reclamar ou fazer comentários negativos sobre a comida, mas, sim, elogiar e agradecer a pessoa que a preparou.
- Nunca brincar com sua comida.
- Não jogar fora comida que você mesmo colocou no seu prato, mas comer tudo.
- Pedir licença para sair da mesa.
Sei que agora “estou frito”. Embora esta lista seja somente uma amostra para provocar reflexão, coloquei o suficiente que não posso mais afirmar “ignorância” perante minha esposa e minha sogra. “O que escrevi, escrevi.” Graças a Deus que não falei nada sobre arrotar!