Muitas pessoas hoje oram por um reavivamento geral na igreja, no Brasil e no mundo. Mas creio que muitos estão olhando no lugar errado. Creio que o verdadeiro reavivamento há de começar justamente no lugar que Satanás está mais atacando hoje: o lar. Baseio minha convicção no fato de que o apóstolo Paulo descreve as evidências de um “reavivamento” (a plenitude do Espírito) em Efésios 5:15-6:9 como acontecendo no contexto do lar. Para termos um reavivamento de verdade, teremos que começar com a primeira instituição: a família. Mas para isso acontecer, teremos que voltar às bases para redescobrir o propósito que Deus tem para a família.
O primeiro grande propósito de Deus para a família é simplesmente Espelhar a Imagem de Deus. Existe um segundo propósito que Deus tem para a família, e que a faz “erguer seus olhos, para ver os campos já brancos para a ceifa . . . “: A família existe para ESPALHAR o reino de Deus.
Este segundo grande propósito de Deus envia a família para ser um “centro de missões” (e não um campo missionário!). Infelizmente, muitas pessoas não têm esta perspectiva exaltada da importância da família no plano de Deus. Para algumas, a família não passa de uma conveniência: alguém lava minha roupa, prepara meu almoço, divide as despesas comigo, concerta a pia e dorme ao meu lado. Para outras, a família já não é uma conveniência, mas uma aflição a ser suportada. As crianças exigem “coragem” para criar, o marido não presta e a esposa só incomoda. Até alguns ministros encaram a família como um empecilho que frustra sua realização da “obra de Deus”.
Mas a família é muito mais que isso. A família é nosso maior recurso natural para alcançar o mundo. A família existe para produzir uma herança piedosa na terra, e já é um meio ideal para evangelizar e discipular o mundo. E sempre foi assim. Desde Adão e Eva, Deus tem usado famílias para alcançar o mundo. Como já vimos, o primeiro casal recebeu a “comissão” de encher a terra com novas imagens para a glória de Deus. Anos depois da queda, Noé recebeu exatamente a mesma ordem, sem dúvida mais difícil depois da Queda, mas a mesma ordem (Gn 9:1). Abraão, o “pai de muitas nações”, foi escolhido para que sua família fosse uma bênção trazendo salvação às nações. E o próprio Senhor Jesus veio para a terra morar em família.
Com seu potêncial incrível de alcançar pessoas, a família se torna um centro de círculos concêntricos de ministério que visam alcançar o mundo. Estas esferas de ministério são alistados em ordem de prioridade. Todos, porém, podem e devem acontecer ao mesmo tempo.
O ministério da família começa entre marido e esposa
Antes de ministrar para o mundo, Deus chama o casal para ministrar um para o outro. Em Gênesis lemos que, quando Deus criou o homem, ele era incapaz de realizar todo o plano divino para sua vida (“não é bom que o homem esteja só”, Gn 2:18). Deus criou a mulher justamente para completar o que faltava no homem, e vice-versa. O ministério marido-esposa e esposa-marido acontece pelo fato de que Deus criou a mulher como “auxiliadora idônea”.
Muitas idéias errôneas existem sobre a frase “auxiliadora idônea”, como se a mulher fosse uma empregada doméstica caprichosa. Nada podia ser mais longe da verdade. A palavra “auxiliadora” foi usada no Velho Testamento de somente mais um indivíduo: Deus! Só que quando o termo se refere a Deus, a tradução normal é “Socorro, Auxílio, Amparo”. Em outras palavras, Deus colocou alguém semelhante a Ele ao lado do homem para “socorrer o homem” (não para ser pisada por ele!).
O termo “idônea” literalmente significa “conforme o oposto”. A mulher corresponde ao homem, e por isso pode ter comunhão com ele, mas ela também é diferente, com dons, talentos, perspectivas e ideais que completam o que falta no homem. Obviamente o oposto é verdade também: o homem é o que a mulher não é. Como já vimos, esta “unidade em diversidade” é o gênio do casamento. Em vez de competir, o casal deve completar um ao outro. Em vez de tentar criar o cônjuge à nossa própria imagem, devemos apreciar as diferenças entre nós. Em vez de diminuir as diferenças entre os sexos (nas modas de roupa, “jeitão” de ser, etc.) devemos valorizá-las. Cada casal deve estabelecer a prioridade de ministrar um para o outro conforme o plano original de Deus e coerente com os papeis esboçados pelo apóstolo Paulo em Ef. 5:22-23. O ministério de alcançar o mundo começa bem no lar, com o ministério marido-esposa.
O ministério da família estende-se para o discipulado dos filhos
Quase todo texto na Palavra de Deus que fala do relacionamento pai-filho destaca a importância de discipular os nossos filhos (Dt 6:4-9; Sl 78:1-8; Pv 22:6; Ef 6:4). Deus criou a família para encher a terra com pessoas tementes a Deus. A queda dificultou mas não anulou a comissão. O lar cristão deve ser o centro de evangelismo e discipulado dos filhos.
Infelizmente, muitos pais hoje se preocupam com tudo menos seu ministério como “pastores-sacerdotes” do lar. Trabalhamos duro para por pão na mesa e roupas de grife nas costas. Procuramos as melhores escolas. Corremos para cá e para lá para aulas de piano, dança, inglês. E levamos nossos filhos para a Escola Bíblica Dominical. Mas somos piores que incrédulos se não suprimos as necessidades espirituais no nosso lar. Este discipulado acontece através de convivência, exemplo, ensino formal e informal (Dt 6:4-9).
Paulo deixa claro que os pais que sabem “pastorear” seus próprios filhos são qualificados para liderar a igreja (1 Tm. 3:4, 12). O discipulado de nossos filhos nos autoriza para ministrar para o mundo.
O ministério da família visa alcançar o mundo
Assim como a família sempre foi usada por Deus para executar seu plano na terra, a família continua sendo grande “centro de missões”. Mas como?
Primeiro, a família prepara filhos para alcançarem o mundo. O preparo destas “flechas” que Deus coloca “nas mãos do guerreiro” (Sl 127:4) visa afiá-las e lançá-las para penetrar o coração do mundo.
Segundo, o exemplo da família chama a atenção do mundo. Nestes dias de caos familiar, uma família feliz e razoavelmente bem-estruturada chama muita atenção. “Por que sua família é diferente?” é uma pergunta que abre a porta para o evangelho (1 Pd 3:15).
Terceiro, a própria família pode alcançar o mundo ministrando juntos, contribuindo para a obra do Senhor, apoiando a igreja local, fazendo viagens missionárias, desenvolvendo projetos especiais (programas evangelísticos, EBF, etc.) sustentando missionários, orando pelo mundo, hospedando obreiros, e muito mais. Não há limites no que pode ser feito através da família!
Creio que Deus ainda quer nos dar um reavivamento espiritual. Mas para isso acontecer, a família terá que voltar às suas raízes e redescobrir sua razão de existir: espalhar a imagem de Deus, e espelhar o reino de Deus. Que o reavivamento venha, uma família de cada vez: sua família, e minha.