Certa vez um amigo ativista criticou a ideia do ministro tirar férias. “O diabo não tira férias” ele comentou. Ao que respondi “Não quero ser como o diabo!”.
Deus não é ativista, muito menos mestre de escravos. Ele estabeleceu o padrão de um dia de descanso, reflexão, adoração e avaliação. Para Seu povo Israel, Deus exigia festas e feriados que interrompiam o calendário judaico. Havia pelo menos sete festas especiais durante o ano, em que Deus exigia que o povo separasse até uma semana para celebrações, lembranças, cultos especiais e festas, com muita alegria e muita reflexão.
Para o ativista, feriados e folgas e festas talvez pareçam uma perda de tempo. Mas são oportunidades de pararmos para lembrar que não somos Deus, que Ele é o foco de tudo que fazemos, e que sem Ele, nada podemos fazer. Em outras palavras, que “menos” pode ser “mais”.
Na leitura dos Evangelhos tenho observado a simplicidade da vida de Jesus. Jesus ficava livre de preocupações para ministrar, ensinar e cuidar de pessoas. Jesus sabia “correr com calma”. Parece-me que Jesus vivia o que o autor de Hebreus descreve: “desembaraçando-nos de todo peso…que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta” (Hebreus 12.1). Na vida de Jesus, menos era mais! Vejo pelo menos três áreas nas Escrituras onde essa ideia de “menos” pode ser “mais”. Se sua vida parece complicada demais, sugiro que reflita nestas áreas:
Menos Correria e Mais Cristo (Lucas 10.38-42)
Na história de Marta e Maria, identifico-me com a Marta. Mas entendo que na escala de valores divinos, Maria escolheu o que era melhor. Escolheu Cristo acima da correria. Marta queria fazer mais para Cristo. Maria queria mais de Cristo. Marta ficava exausta, porque ministrava em sua própria força. Perdeu de vista o alvo do seu serviço que era Jesus. Jesus Cristo estava na sua sala de estar e ela não parava de descascar batatas e lavar panelão!
Como se não bastasse, Marta, como tantos de nós, olhava ao seu redor, fazia comparações, e exigiu que sua irmã fosse igual a ela. Criticava sua irmã e criticava o próprio Senhor Jesus! Acusou-O de não se preocupar com ela. Demonstrou um coração intolerante, impaciente, inquieta, insatisfeita. Pessoas que ocupam todo o seu tempo “no serviço do Senhor” mas que esquecem do Senhor do serviço muitas vezes acabam assim. Demandam mais e mais dos outros. Andam inquietas, intolerantes e impacientes.
Mas Jesus não quer nada disso. Não permite que as Martas dessa vida tirem das Marias sua alegria: Marta, Marta, andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário, ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte e esta não lhe será tirada. (Lucas 10.41,42). Para Jesus, menos era mais. É tão fácil na obra do Senhor esquecer do Senhor da obra! Perder nossa perspectiva, nosso rumo, tornar da obra nosso Deus. Mas a obra do Senhor começa com o Senhor! Comunhão com Cristo é o ponto de partida para fazer a obra de Cristo. Conhecer a Cristo é essencial para saber o que Cristo quer que façamos.
Você é mais como Marta ou Maria hoje? Será que Jesus Cristo está esperando na sua sala de estar e você está lavando panelão? Você se esqueceu do Senhor? Perdeu aquela comunhão gostosa com Ele? Parou de conversar com Ele? Parou de realmente adorá-lo? De sentar aos seus pés para ouvi-lo? Você perdeu sua alegria? Anda tão ocupado que fica olhando ao seu redor criticando seus colegas, seus irmãos, reclamando porque você tem tanto trabalho para fazer, exigindo aplauso e reconhecimento? Marta era assim. Mas Jesus falou, “Menos é mais”. “Sirva-me, mas conheça-me primeiro.”
Menos Livros e Mais Do livro (Eclesiastes 12.9-14)
O povo evangélico é um povo que gosta de livros. Nos últimos 20 anos temos visto uma verdadeira explosão na produção de literatura evangélica. Mas existe um perigo muito grande. Podemos correr para livro após livro antes de ir para o livro.
O Pregador, autor de Eclesiastes, escreveu vários livros (Provérbios, Eclesiastes e Cantares). Mas, sabia que livros têm suas limitações (12.12). O que precisamos mais que livros é o conhecimento do Autor do Livro (12.13,14).
Pedro nos dá essa ordem: Desejai ardentemente, como crianças recém nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para salvação (1 Pedro 2.2). Em Deuteronômio 4.4 lemos: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Josué em Josué 1.8 também menciona isto: não cesses de falar desse livro da lei, antes medite nele de dia e de noite.
Certa vez alguém comentou: “Ou esse livro vai nos tirar do pecado ou o pecado vai nos tirar desse livro”. É muito bom lermos a Bíblia inteira, de preferência, com regularidade. Mas não existe nenhum prêmio especial no céu para quem leu a Bíblia mais vezes. Não importa quantas vezes você leu a Bíblia inteira tanto quanto o número de vezes que a Bíblia leu a você!
Com a multiplicidade de livros no mercado evangélico, corremos o risco de ler muitas palavras sobre Deus, sem ler as palavras de Deus. Alguns fariam bem se fizessem um jejum de leituras paralelas, até mesmo de livros sobre a Bíblia, para ler mais A Bíblia!
Menos para Coisas e Mais para a Causa (Lucas 12.13-34)
Nossas vidas ficam entupidas de bugigangas que não passam de lixo no esquema eterno. Somos estressados, exaustos, estrangulados pelas coisas e endividados para adquiri-los.
Certa vez um homem de negócios americano foi passar férias no México. Encontrou um homem pescador à margem de um rio. O pescador tinha pego vários peixes grandes. O americano, impressionado, sugeriu que o pescador usasse mais que uma vara para pegar mais peixes. Por que? Perguntou o mexicano. “Assim, você poderá pegar ainda mais peixes para vender na vila.” Por que? o pescador perguntou. “Para poder ter lucro, e comprar mais equipamento, talvez um barco e uma rede.” Por que? Continuou o pescador. “Para contratar uma equipe de pescadores, entrar no alto mar, abrir uma fábrica e exportar peixes internacionalmente.” Mas, por que? “Para poder ganhar muito dinheiro, aposentar, comprar uma casa ao lado de um belo rio, e fazer o que você quiser o dia inteiro,” respondeu o americano, frustrado. “Mas é isso que faço agora” disse o mexicano. “Por que preciso de mais?”
Jesus nos mostra em Lucas 12.13-23 que quanto mais possuímos, mais somos possuídos pelas nossas posses. Quanto mais temos, mais nos preocupamos com a manutenção dos nossos pertences! Salomão faz uma observação interessante sobre o paradoxo das riquezas em Provérbios 13.8: Com as suas riquezas se resgata o homem, mas ao pobre não ocorre ameaça!
Onde será que posso simplificar minha vida? O que está complicando meu andar com o Senhor? Onde “menos” pode significar “mais”? Faríamos bem se nos “desembaraçasse” de alguns dos nossos pertences para poder focalizar mais no nosso Senhor. Para quem não quer ser como o diabo, é bom tirar férias. Mas também é bom fazer uma avaliação periódica da nossa vida para descobrir onde “menos” pode ser “mais.” O resumo de tudo que temos visto é: Menos de mim e Mais de Cristo.
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faça: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. (Filipenses 3.13,14)