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Filhos Obedientes | Série Criação de Filhos

Alguns anos atrás tive a oportunidade de visitar duas aldeias de indios yonomamis no norte do Brasil.  Presenciei naquela cultura primitiva características do domínio de Satanás no relacionamento pai-filho.  As crianças yanomami não respeitam seus pais.  Em geral, são respondões;  seus pais precisam falar 3, 4 ou 5 vezes com ameaças e até gritos antes dos  filhos obedecerem.  Filhos batem em seus pais.  Andam soltos, fazendo o que querem, onde querem, como querem.  Depois de observar aquela cultura primitiva, pensei comigo mesmo, “A civilização chegou às aldeias indígenas!” Isso, porque já assisti o mesmo drama no Carrefour em São Paulo!

Paulo identificou “desobediência aos pais” como uma das características dos últimos tempos (2 Tm 3:2).   Parece que Satanás, sabendo que seu tempo é limitado, está fazendo de tudo para minar o alicerce de lares cristãos, especialmente no relacionamento pai-filho.

Infelizmente, desobediência de filhos aos pais também caracteriza muitas famílias da igreja.  Precisamos de um reavivamento verdadeiro.  Conforme Efesios 5:18-6:4 isso começa no lar, com pessoas cheias (controladas) pelo Espírito de Deus, que usa a Palavra de Deus para nos transformar à imagem de Deus.

“Obediência com honra” resume a responsabilidade dos filhos para com os pais no lar  cristão saudável (Col 3:20, Ef 6:1-3).  Mas como que os filhos vão aprender a obedecer e honrar?  Deus deu a tarefa “professorial” aos pais!  Se “estultícia está ligada ao coração do filho”  (Pv 22:15)  os pais precisam ensinar obediência aos filhos.

Os pais podem se matar comprando presentes para o Dia da Criança, gastando tempo com os filhos, se sacrificando para matriculá-los nas melhoras escolas, mas se não ensinarem obediência bíblica muito será  em vão. Obediência é o brilhante na coroa de um caráter verdadeiramente cristão.

Na nossa experiência, não são os filhos que demoram tanto em aprender a seguir o padrão bíblico de obediência, mas os pais.  As crianças aprendem muito rápido a alcançar o alvo que os pais consistentemente ensinam e exemplificam. Ao mesmo tempo, não basta dizer que Deus requer obediencia de filhos aos pais.  Nosso padrão de obediência tem que ser o mesmo  que Deus estabelece!  Para esse fim, gostaria de sugerir pelo menos 3 facetas no brilhante de obediência que Deus espera dos filhos e que os pais devem ensinar.

  1. Obediência Imediata

    (Nm 14:6-9, 39-45)

Deus mandou o povo de Israel entrar na Terra Prometida, mas ele se tornou rebelde e desobediente.  O resultado foi uma disciplina severa, envolvendo a morte de toda aquela geração e 40 anos vagueando no deserto.  (É interessante notar que, acim como muitas criancas hoje fazem, na hora que Deus declarou a disciplina, o povo “se arrependeu”(?), e insistiu em entrar na Terra assim mesmo.  Mas foi um segundo ato de rebeldia e rejeição da disciplina do Senhor (Pv 3:11), e já era tarde demais.)

Deus, como um bom Pai, não aceita “obediência” de qualquer jeito.  Ele é um Grande Rei, e quando fala, espera uma resposta imediata.  Quando os pais abaixam o padrão de obediência até que fique ao alcance de qualquer um, encorajam a auto-suficiência da criança e minam sua necessidade da obra cruz e de Jesus em sua vida.  O padrão bíblico para pais (e para paz no lar!) é obediência imediata e da primeira vez, com instruções dadas em tom normal de voz, sem repetição e sem ameaça.

Ofereçemos algumas sugestões práticas para ensinar o padrão de obediência imediata (algumas dessas idéias são extraídas do currículo para pais, Educação de Filhos à Maneira de Deus por Gary e Anne-Marie Ezzo):

*Quando você dá uma ordem, fale em tom normal de voz, com clareza, olhando nos olhos.

*Ensine seus filhos a reconhecerem seu pedido.  Sugerimos a resposta, “Sim, papai” ou algo semelhante, para garantir entendimento.  (Não defendemos o autoritarismo; o que queremos é eliminar a possibilidade de má compreensão e desculpas mais tarde como “não entendi”, “não ouvi”, etc.)

*Quando possível, os pais devem dar uma razão moral por trás da ordem, para ensinar o princípio moral e não somente legalismo.

*Quando não houver obediência imediata, deve haver uma disciplina apropriada, sem ira.

*Para pais que nunca estabeleceram esse padrão bíblico, deve haver confissão diante dos filhos e uma explicação das novas regras da casa.

  1. Obediência Inteira (1 Sm 15:9-11,22)

A segunda “faceta” do brilhante de obediência bíblica que Deus requer é obediência inteira.  Aprendemos esse princípio da história do povo de Israel, quando o profeta Samuel (representando Deus) mandou o rei Saul exterminar um povo idólatra, imoral, violento chamado os Amalequitas.  Isso para não correr o risco deles contaminarem o povo de Deus com seu pecado.  Mas Saul tinha uma boa idéia: poupar o rei Agague, e o melhor dos Amalequitas.  A Bíblia Anotada chama esse episódio “Obediência Parcial”, mas o fato é que aos olhos de Deus não existe “obediência parcial”.  Obediência parcial = rebeldia total.

Os pais que permitem que seus filhos negociem as condições de obediência, que aceitam uma obediência parcial em nome de “paz” no lar (por medo de contrariar o filho) são parceiros no pecado do filho.  Ao cortarmos essa faceta do diamante do caráter do nosso filho, não podemos errar sem haver uma falha no brilhante.  Esse foi o caso de Saul (vs 22).

Um outro exemplo dessa “obediência parcial” que a Bíblia chama de rebeldia aconteceu quando Moisés foi mandado FALAR com a rocha para tirar água para o povo sedento no deserto (Nm 20:11-13).  Ele tirou água, mas BATEU na rocha.  Parecia algo tão simples, um deslize raro para o grande líder. Mas constitui uma profanação do caráter, da majestade e da santidade de Deus.  As palavras dEle não podem ser tratadas como profanas, banais, insignificantes.  São a nossa vida.  Ele é um Grande Rei!

Os pais ensinam o padrão de desobediência de várias formas.  Negociação em meio a conflito  leva os pais  a aceitarem uma porcentagem de desobediência em vez de obediência completa, muitas vezes para evitar mais  conflito em casa.  Abaixam o padrão e aceitam obediência parcial diante de um jogo de poder.

Com crianças pequenas ainda parece inocente e insignificante deixar a Júnior “escapar” sem comer toda a beterraba que foi colocada no seu prato, mas o que acontecerá quando Júnior tem 17 anos e não volta para casa até 3 horas depois do pedido?  O importante não é O QUE os pais pedem, mas o fato de que  quando pedem, mantenham esse padrão.

Rebeldia passiva  é outro inimigo de obediência inteira.  A criança desobedece de forma sutil, quase que inocente, muitas vezes substuindo sua própria forma de “obediência” no lugar da obediência exigida pelos pais.  Por exemplo, os pais mandam o filho limpar seu quarto, mas ele faz sua tarefa de casa.  Pedem para tirar o lixo, mas sai para cuidar do cachorro.  Pedem para cuidar do cachorro, mas arruma seu quarto.  E justamente   quando acham que decifraram o “código secreto”, ele muda as regras.  O problema é que o filho continua com o poder nas mãos, quando Deus designou os PAIS como autoridades no lar.

Outra forma de rebeldia passiva é quando o filho faz seus deveres pela metade ou mal-feitos.  Estes padrões podem parecer autoritários.  Por isso é importante reconhecer que a autoridade dos pais é uma autoridade emprestada do próprio Cristo.  Ele, que tem toda a primazia, que é Grande Rei, estabeleceu os pais como autoridades amorosas na vida dos filhos.  Não podem aceitar desrespeito, desobediência, desonra, EM NOME  E POR AMOR DE CRISTO!

Tudo isso, é claro, pressupõe um contexto de amor, de expressões freqüêntes de carinho por parte  dos pais.  Estes andam junto com seus filhos e exemplificam o mesmo tipo de obediência imediata e inteira às autoridades que Deus constitui em suas vidas.  Gastam tempo com os filhos.  Abrem portas para conversas francas e abertas.  Saem com os filhos individualmente.  Praticam esportes, pescam,  assistem filmes, abraçam e encorajam os filhos.

Obediência parcial é rebeldia total, e é inaceitável para o filho de Deus.  Pais que não ensinam essa forma de desobediência estão treinando seus filhos a pecar, e eles mesmos estão em pecado.

  1. Obediência Interna

A última faceta de obediência bíblica é a mais importante de todas.  Quando falamos de obediência interna, falamos de obediência de coração.  Os pais precisam, acima de tudo, atingir o coração dos filhos (veja Pastoreando o Coração do Filho por Tedd Tripp).  Se não, mesmo que consigam transmitir o padrão de obediência imediata e inteira, provavelmente criarão filhos fariseus e legalistas, com corações distantes dos pais—e de Deus!  Os pais não podem se contentar com obediência  superficial, só quando os outros estejam olhando.

É isso que Provérbios nos ensina em dois textos fundamentais para pais E filhos:

Pv 4:23 Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.

Pv 23:26 Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se agradem dos meus caminhos.  (cf Mt 15:7-9  e Is 29:13,15) .

Obediência interna quer dizer sem desafio, sem reclamação, de boa vontade, com alegria.  Que padrão alto! Sem dúvida, esse padrão exigirá muito de pais E filhos—tempo para avaliar atitudes, questionar, conversar, sondar, refletir, confessar, perdoar e orar.  Os pais terão que correr atrás não somente de ações mas atitudes.  Mas no fim, dará ricas recompensas aos pais e aos filhos.

Como o apóstolo Paulo exclamou, “Quem é suficiente para essas coisas?” A resposta: Ninguém.  Em comparação com o padrão bíblico, tanto filhos como pais, tanto índios yanomami e famílias “civilizadas” estão “fritos”.  Mas não podemos desistir.  Estamos  numa das últimas batalhas, uma batalha pela alma da família.  Nesta batalha precisaremos de uma dose dupla da graça de Jesus.  Ele vive em nós.  Essa é a nossa esperança da glória (Col 1:27).  Aquele que começou boa obra há de completá-la (Fp 1:6).  Há perdão pelo passado e esperança pelo futuro.

Mas não podemos abaixar o padrão até que fique ao nosso alcance.  Precisamos que Jesus nos eleve até o padrão.