Para muitos hoje, o romantismo que cerca a história do Natal ofusca a realidade: um nascimento mais humilde seria impossível. Mas Jesus nasceu da forma mais humilde para ser Salvador de todos.
E se o Natal fosse hoje, no Brasil…
Num dia glorioso da primavera foi o anjo Gabriel enviado da parte de Deus, para um vilarejo do sul de Minas Gerais chamado Santa Rita do Sapucaí, a uma adolescente de 15 anos chamada Maria de Socorro. Ela já era noiva de um jovem chamado José da Silva, aprendiz de marceneiro, rapaz forte, sensível e bom.
E entrando o anjo aonde ela estava, disse, “Anima-te, muito favorecida! O Senhor é contigo.”
Ela, porém, ao ouvir esta palavra, ficou muito assustada. Certa de que não se tratava de um episódio de Câmera Escondida ou Fantástico, pensou consigo mesma: “O que será que ele quer dizer com isso?”
Mas o anjo lhe disse, “Maria, não temas. Porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo.”
Então disse Maria ao anjo: “Como será isto, pois eu e José nem beijinhos trocamos. Nunca fiquei com ninguém, e sou virgem.”
Respondeu-lhe o anjo: “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. E Isabel das Graças, tua prima, também concebeu um filho no Asilo Batista dos Idosos, nas regiões montanhosas de Monte Verde, sendo este já o sexto mês para aquela que já fez muito tratamento de fertilidade, sem dar em nada.”
Passaram-se uns dias, e Maria criou coragem para falar a história aos seus pais. Quando ouviram, a mãe só soluçava. O pai, um dos diáconos da Comunidade Evangélica de Santa Rita, quis matar “aquele moleque José.” Mas depois de um tempo, Maria conseguiu convencer ambos de que, realmente ficara grávida pelo Espírito Santo.
Mas quando contou tudo para José, foi outra história. Aquele jovem quieto, sensível, ficou profundamente machucado. Maria chorou, seus pais choraram, mas José saiu correndo da casa. Precisava de espaço para respirar, refletir, chorar e questionar. Como podia conhecer tão mal aquela que era a princesa de sua vida? Andou por horas numa chuvinha leve, resolvendo o que deveria fazer. Naquela noite, diante de Deus, decidiu desmanchar o noivado, em particular, sem sujar ainda mais o nome da Maria e para manter sua própria reputação limpa. Mesmo depois que ela o traiu, ele ainda a amava. Soluçava ao pegar no sono, enquanto seus sonhos de um futuro lar feliz se dissipavam diante dele.
Foi quando um brilho assustador interrompeu seus pesadelos, e uma voz ecoou em sua mente, “José da Silva, não temas de tomar Maria como sua esposa, porque o que nela foi gerado realmente é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados.” Quando despertou José do sono, na hora fez como lhe ordenara o anjo do Senhor. Naquela mesma semana, celebraram uma cerimônia simples de casamento no cartório. Mesmo assim, não foram poucos os vizinhos que suspeitavam que nem tudo estava “kosher” em Santa Rita do Sapucaí. Mas José da Silva recebeu Maria do Socorro como sua esposa, até que a morte os separava.
Depois da cerimônia, sem possibilidades de lua-de-mel, quase sem presentes de casamento, ainda com certa vergonha, José levou Maria para a edícula atrás da casa do seu pai. Aqueles primeiros meses eram muito difíceis . . . Maria, tão jovem, muito enjoada nos primeiros meses da gravidez, com saudade dos pais, não podendo andar na rua por medo das gozações e fofocas. José, ainda aprendiz, trabalhando o dobro para sustentar uma família, numa casa ainda não acabada, tendo uma esposa, mas ainda não podendo desfrutar dos privilégios matrimoniais, ouvindo os comentários das “más línguas”, algumas, de pessoas da própria igreja. Sempre imaginando em seu íntimo, “Como será, ser o papai do Filho de Deus? Como guiar as mãos daquele que formou o universo? Como ensinar o alfabeto ao Verbo de Deus? Como ensinar a contar aquele que sabia o número das estrelas?”
O Nascimento
Naqueles dias foi publicado um decreto do presidente, convocando toda a população da república para recadastrar-se com novo CPF. Este, o primeiro recadastramento, foi feito quando governador do estado de São Paulo. Todos iam recadastrar-se, cada um à sua própria cidade. José também subiu de Minas, do vilarejo de Santa Rita do Sapucaí, para São Paulo, à cidade de Atibaia, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de recadastrar seu CPF com Maria, sua esposa, que estava grávida.
A viagem foi longa, e dura, e necessitava de 4 ônibus diferentes, nada fácil para uma mulher no nono mês da gravidez. E, eis que ninguém oferecia assento para ela, e havia greve de ônibus em São Paulo. A jornada foi sobremodo difícil.
Tendo eles chegado, e estando eles na fila interminável do recadastramento, aconteceu que a bolsa da Maria rompeu. E José saiu a procura de algum hospital para seu filho nascer. Mas a Santa Casa estava fechada por falta de remédios. O velho Hospital Novo estava em reformas para se tornar novo outra vez. E o hospital Albert Sabin só aceitava pacientes com plano de saúde, cartão de crédito ou dinheiro. Não havia lugar para uma jovem senhora em trabalho de parto!
Desesperado, o único lugar que o jovem marido conseguiu foi um barraco atrás de uma casinha antiga no lugar menos nobre da cidade. Ali o dono da casa guardava uma manada de bichos de estimação. Um lugar mais humilde não existia. Mas foi ali, entre gatos, cachorros, aranhas e lagartixas, que Maria deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o em edições velhas do Estadão, e deitou-o num canto do barraco que José havia limpado. O Salvador chegou!
Havia naquela mesma região trabalhadores da prefeitura, asfaltando uma entrada da periferia durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse, “Calma, galera! Eis que vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo o povo. É que hoje vos nasceu, em Atibaia, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta no Estadão, e deitada no canto dum barraco.” E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem.
E ausentando-se deles os anjos para o céu, diziam os trabalhadores da prefeitura, “Chega de asfalto! Vamos até Atibaia e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer.” Foram apressadamente, e acharam Maria e José, e a criança deitada no canto do barraco. E vendo-o, falaram para todo o pessoal que morava na região a respeito deste menino. Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos trabalhadores. Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração. Voltaram, então, os trabalhadores, glorificando e louvando a Deus porque Ele havia anunciado esse nascimento a eles, e não aos “grandes” e elite da alta sociedade.