A quase desconhecida caminhada de Van Gogh com Cristo

Filho e neto de pastores, Van Gogh dedicou parte de sua vida como missionário. Entretanto, obras de temática cristã são negligenciadas por alguns curadores e críticos de arte.

O pintor holandês Vincent Van Gogh é considerado um dos maiores artistas de todos os tempos. Sua obra começou a ganhar destaque logo depois de sua morte, em 1890, aos 37 anos.

Van Gogh foi filho e neto de pastores protestantes. Seu pai Theodorus não era conhecido

por suas grandes pregações, mas por seu compromisso com a ação social. Ele dedicava vários dias para distribuição de comida e roupas para os pobres.

William Havlicek, Ph.D e autor de “A jornada desconhecida de Van Gogh”, analisou mais de 900 cartas escritas pelo artista durante sua vida. O pesquisador descobriu que as cartas testemunham uma história muito diferente da versão popular do artista louco que cortou a própria orelha. “O que surge, em vez disso, é uma história de lealdade altruísta, uma síntese do conselho sagrado do Evangelho – ‘amem uns aos outros’”.

A atuação de Van Gogh como missionário

O zelo de Vincent por Cristo aumentou durante os seus vinte e poucos anos. Ele queria estudar Teologia, mas falhou em seu exame de admissão para o seminário. Em vez disso, partiu para servir como missionário aos mineiros de carvão no distrito de Borinage, na

A ressurreição de Lázaro, 1890. Van Gogh.

Bélgica.

Ele encontrou mineiros doentes e morrendo de fome, vivendo uma existência sombria, sem comida adequada, água ou roupas secas. Uma explosão na mina deixou muitos em uma condição horrível. Lutando pela sobrevivência, eles tinham pouco interesse pelos apelos evangelísticos de Van Gogh.

Em resposta à sua situação, Vincent doou tudo o que possuía, incluindo a maioria de suas roupas. Para atender às necessidades médicas dos mineiros, rasgou seus próprios lençóis de cama para fazer bandagens e passou a dormir em palha no chão. “Por tais ações, ele conquistou a admiração e o respeito dos trabalhadores e conseguiu converter alguns deles”, observa Havlicek – “Vincent era um homem muito generoso. Ele entendeu que o amor incondicional de Deus se estendia ao amor incondicional pelos outros. Ele nunca reconheceria o amor que não era uma ação”. 

Alguns anos depois, Van Gogh foi demitido pelo comitê da igreja que o supervisionava, que alegou que ele não se vestia bem, não pregava com eloquência e sofria de zelo excessivo.

Após o fim de sua atuação no campo missionário, Vincent voltou para a casa dos pais, mas passou a sofrer com colapsos nervosos pelos desgastes físicos e emocionais do trabalho com os mineiros e hierarquia da igreja.

O Bom Samaritano, 1890

Início da carreira artística e intensas discussões com o pai

Iniciou também os estudos Académie Royale des Beaux-Arts, em Bruxelas. Van Gogh queria continuar a servir a Deus com sua arte, segundo ele, “para tentar entender o real significado do que os grandes artistas, os grandes mestres, nos dizem em suas obras-primas, que nos levam a Deus.”

 

Pieta, 1889

O abandono da igreja

Durante esse período, vivia intensas discussões com o pai. Após uma grande e violenta briga na noite de Natal, quando Vincent não quis ir à igreja, foi morar sozinho em Haia. Passou a viver uma vida errante, se envolvendo com prostitutas, bebidas e drogas.

A maioria dos críticos e historiadores de arte acredita que Vincent perdeu sua fé entre 1882 e 1885. No entanto, Havlicek encontrou evidências abundantes nas cartas de Vincent e em sua arte de que ele conservava uma fé permanente, mesmo que sua saúde e comportamento se deteriorassem. Surpreendentemente, a maioria das pinturas cristãs apareceu nos últimos três anos de sua vida.

Durante sua vida, Van Gogh pintou diversos quadros de cunho cristão, retratando passagens das Escrituras. Entretanto, suas obras de temática cristã e cartas falando sobre o Evangelho são negligenciadas por muitos curadores de arte e apreciadores de sua obra.

Em 1990 foi realizada uma grande exposição em Amsterdã, relembrando os 100 anos de sua morte. O evento reuniu 1,2 milhão de pessoas, mas segundo William Havlicek “Nenhuma das imagens religiosas estava na exposição. Elas foram deliberadamente mantidas no porão (…) Na arte ocidental, houve um movimento em direção à secularização através do pensamento existencial”.


Com informações de God Reports

Redação: Luciana